Nógado Alentejano do Real Convento das Servas de Borba – História e Receita
Nógado Alentejano do Real Convento das Servas de Borba – História e Receita
Nógado Alentejano do Real Convento das Servas, Borba, Alentejo
O nógado é um doce de origem Árabe feito com frutos secos: nozes, amêndoas e avelãs, mergulhados em mel a ferver. Depois de amornar, adicionam-se gemas de ovos e vão novamente ao lume até cozer. Depois de arrefecerem, são cortados aos cubos e embebidos numa calda de açúcar.
No Alentejo faz-se um nógado mais pobre, em vez de frutos secos é usada farinha. É um doce tradicional, feito no Alentejo na época do Natal e Carnaval.
Muito semelhante ao nógado alentejano, em Espanha (Estremadura e Andaluzia) encontramos os “El pinonate” tradicionais pela época da Páscoa. Em Itália “Acciuleddi”, doce típico da Sardenha, feitos pelo Carnaval, onde a massa é enrolada num engenhoso entrelaçado.
De salientar que em Portugal, o nógado é também conhecido em determinadas regiões por Pinhonate ou Pinhote.
NÓGADO ALENTEJANO DO REAL CONVENTO DAS SERVAS DE BORBA
Mas regressando ao Alentejo, o nógado alentejano, é uma especialidade gastronómica de grande importância. É tradicionalmente preparado durante o Natal e Carnaval, com a massa que sobejou das filhoses ou filhós.
Em Beja e algumas outras regiões do Baixo Alentejo, há a tradição do nógado alentejano por altura dos festejos de S. João.
Ao contrário do tradicional nógado existente em toda a bacia mediterrânica e norte de África (com exceção da Estremadura e Andaluzia em Espanha e na Sardenha em Itália), o nógado alentejano não leva nozes nem pinhões, mas sim pequenos pedaços de massa de farinha, desconhecendo-se a sua existência noutras regiões do País.
A sua origem está no Real Convento das Servas de Borba, podendo ser classificado como doce conventual.
No século XIX extravasou os domínios do convento e foi adotado pelo povo como doce de Natal e Carnaval, batizado como nógado alentejano. Inicialmente foi muito utilizado na região de Borba, Estremoz, Elvas e Portalegre.
No início do século XX é divulgado pela oralidade popular e hoje é confecionado por todo o Alentejo, fazendo parte do património imaterial desta grande região. Claro, com algumas variantes, essencialmente nas medidas e pesos dos seus ingredientes.
RECEITA DE NÓGADO ALENTEJANO DO REAL CONVENTO DAS SERVAS EM BORBA
INGREDIENTES
- 1 dl de azeite mais azeite suficiente para fritar;
- 12 Ovos;
- Farinha de trigo suficiente para a massa não colar;
- 1 litro e meio de mel;
- Folhas de laranjeira q.b.
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PREPARAÇÃO
Num tacho de cobre, junte o azeite, os ovos batidos e farinha peneirada, suficiente para fazer uma massa que não cole e que não fique muito dura;
Numa pedra mármore humedecida, estenda a massa, corte tiras e faça uns rolinhos com cerca de 30 cm e não mais de 1 cm de diâmetro, que irão fritar em azeite;
Num outro tacho de cobre, coloque o mel e deixe ferver durante cerca de 15 minutos;
Entretanto, corte os rolinhos que fritou em pequenos pedaços do tamanho de um feijão branco;
Introduza-os no mel a ferver, deixe-os ficar uns instantes para se embeberem bem do mel a ferver;
Retire do lume, molhe com água bem fria a pedra mármore ou uma tábua de cozinha e tenda com as mãos a massa do nógado, em blocos de 20 ou 30 cm de comprimento;
Deixe secar durante uma noite. No outro dia, envolva estes blocos em folhas de laranjeira.
Não corte o nógado ao servir, deixe em rolo e vá cortando em pequenas fatias, à medida que seja consumido.
UMA VARIANTE DE NÓGADO ALENTEJANO DO BAIXO ALENTEJO
INGREDIENTES
- 6 Ovos;
- 6 Colheres de sopa de azeite;
- Farinha de trigo q.b.;
- 1/2 lt de mel;
- 1 Pitada de sal;
- Folhas de laranjeira ou limoeiro.
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PREPARAÇÃO
Colocar os ovos e o azeite num alguidar de barro, sem bater. Adicionar a pitada de sal, a farinha e amassar muito bem, até tender;
Fazer rolinhos de massa e cortar em bocadinhos pequenos, sob a forma de losango. Levar ao forno a cozer levemente;
Lavar e secar bem as folhas de laranjeira;
Colocar o 1/2 de mel ao lume, fritar os bocadinhos de nógado e retirar do lume quando ficarem loirinhos e o mel no ponto;
Colocar em cima de cada uma das folhas de laranjeira ou limoeiro e, quando frios, estão prontos a servir.
BREVE HISTÓRIA DO CONVENTO REAL DAS SERVAS EM BORBA
“Foi instituída esta casa por Pedro Caldeira, que lhe doou os bens. Estava integrada na Ordem Franciscana da Província do Algarve e Regra de Santa Clara. A data de doação é de 1598.
Tinha um vasto património com vastas herdades, um das mais rendosas, a de S. Torcato, no termo da vila. No testamento do fundador ressai a instrução especial referindo que, se deveria dar preferência de entrada no convento, às filhas de Borba e aos pedidos feitos por D. Teodosio II, de forma a que este lhe pudesse dar padroado.
Vista do Real Convento das Servas, Borba - horadabuxa |
Este foi aceite, e o Duque estabeleceu a esmola de 30.000 réis. Em 1645 vieram do Convento das Chagas de Vila Viçosa as primeiras professas.
Em 1650 D. João IV, doou-lhe grandes esmolas e instituiu o convento como mosteiro régio. Sofreu estragos com o assédio do exército de D. João de Áustria, em 1662.
O convento foi visitado por D. José e D. Maria acompanhados de comitiva. A casa foi extinta em 1885, com a morte da última professa, de nome Joaquina Rafaela Cândida de Almeida de S. João.” - In Alfredo Saramago, 1938 – 2008 - Doçaria Conventual do Alentejo, as receitas e o seu enquadramento histórico, Alfredo Saramago, Colares Editora.
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